Conectadas ao cenário global, indústrias brasileiras reduzem emissão de gases de efeito estufa e mitigam impactos no meio ambiente
A agenda climática tem deixado a esfera estritamente ambiental e ganho crescente influência na economia, com impacto sobre a competitividade das nações. Na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), por exemplo, cerca de 40% do acervo normativo têm relação com o meio ambiente e a sustentabilidade.
Esse movimento acelerou a busca por uma economia de baixo carbono, um modelo de produção focado em reduzir impactos ambientais ao mesmo tempo em que gera emprego e desenvolvimento.
Como explica a diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mônica Messenberg, o setor industrial é “um agente catalisador das potencialidades brasileiras” nesse processo, com capacidade de “dinamizar um ciclo virtuoso de geração de emprego e renda em direção” à economia de baixo carbono.
“O processo de transição representa um desafio, mas também cria oportunidades para a indústria, com o desenvolvimento de processos mais eficientes, a inovação tecnológica e a criação de novos produtos”, afirma Messenberg.
No Brasil, a indústria entendeu o seu papel e está trabalhando para reduzir emissões e zerar o balanço de carbono. A questão se tornou prioridade de vários setores, com muitas empresas se comprometendo a zerar suas emissões até 2050.
Moda sustentável
Entre as empresas que já buscam a transição para uma economia de baixo carbono está o Grupo Malwee. Desde 2015, a companhia investe em tecnologias e processos inovadores que vão do uso de matérias-primas mais sustentáveis à gestão de água, efluentes, resíduos e controle da poluição atmosférica.
Em 2017, a Malwee já havia reduzido em 75% as emissões de gases de efeito estufa com a troca da matriz energética, a substituição de uma caldeira de gás natural por uma movida a biomassa e investimento na eficiência dos processos. Em 2022, 100% da energia de todas as operações industriais é adquirida de fontes renováveis.
Segundo Taise Beduschi, gerente de sustentabilidade do grupo, os resultados estão diretamente ligados ao trabalho coletivo desenvolvido na empresa. “A responsabilidade para alcançar metas, assim como as ações para melhorar o desempenho ambiental relacionado aos impactos do negócio, está distribuída em toda companhia. Seja na definição de metas ambientais para os programas de remuneração variável, nos trabalhos dos comitês que discutem soluções e projetos para atuar em nossas operações e em toda a cadeia de fornecimento”, afirma.
Compensação
A preocupação com a sustentabilidade também pauta as ações da Klabin, uma das maiores produtoras e exportadoras de papéis para embalagens do Brasil. Com medidas como a substituição de combustíveis fósseis por energia de fontes renováveis a empresa conseguiu, entre 2003 e 2021, reduzir em 67% suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Até 2030, a Klabin pretende contar com uma matriz energética ainda mais limpa, com 92% dela alimentados por fontes limpas e renováveis.
Como é uma indústria de base florestal, o balanço de carbono da Klabin é positivo, o que significa que a companhia captura mais gás carbônico da atmosfera do que emite em suas operações. O diretor de Tecnologia Industrial, Inovação, Sustentabilidade e Projetos da empresa, Francisco Razzolini, explica que isso ocorre porque suas áreas florestais capturam e fixam dióxido de carbono (CO₂) suficiente para compensar as emissões oriundas do seu processo produtivo.
“Em 2021, o nosso saldo positivo foi de 4,9 milhões de toneladas de CO2eq (equivalente de dióxido de carbono)”. Mais de 42% das áreas florestais da Klabin são de florestas nativas preservadas.
Na busca pela descarbonização das matrizes energéticas, o hidrogênio sustentável se apresenta como uma solução promissora e oportunidade para a indústria brasileira. De acordo com o estudo Hidrogênio Sustentável – Perspectivas e potencial para a indústria brasileira, lançado em agosto pela CNI, existem duas modalidades de produção mais adequadas para uso no setor industrial: o hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis, e o hidrogênio azul, obtido a partir do gás natural, mas com emissões reduzidas por meio da tecnologia de captura e armazenamento de carbono.
O levantamento aponta que os setores industriais de refino e fertilizantes, grandes consumidores de hidrogênio, têm potencial de uso imediato do hidrogênio sustentável. Já as áreas de siderurgia, metalurgia, cerâmica, vidro e cimento apresentam potencial para adoção da fonte de energia a curto e médio prazos.
Formação e tecnologia
Visando atender à demanda da indústria, parcerias entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Cooperação Técnica Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) investirão milhões de reais em duas frentes para a promoção da economia de baixo carbono: formação de profissionais para a cadeia de hidrogênio verde no Brasil e desenvolvimento de um combustível sustentável de aviação.
Na formação profissional serão investidos, até 2023, R$ 14 milhões na adaptação de infraestrutura e na compra de equipamentos para seis centros de treinamento – sendo um de excelência, em Natal (RN), que funcionará no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) e coordenará nacionalmente a iniciativa – e outros cinco centros regionais localizados no Ceará, na Bahia, no Paraná, em São Paulo e em Santa Catarina. O acordo inclui, ainda, a disseminação da tecnologia de hidrogênio verde pelo país.
Já o projeto para o desenvolvimento do querosene sintético renovável para o uso na aviação receberá mais de R$ 4,5 milhões, até 2023, para obras de adaptação dos reatores e equipamentos já existentes na sede do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, no Rio Grande do Norte. A iniciativa terá duração de dois anos, período em que deverá ser estimado quando o novo combustível poderá chegar ao mercado. A iniciativa conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e participação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fonte: Agência de Notícias da Indústria